O ESPECTRO ENTRE SOLITUDE E SOLIDÃO

 

A solidão é um fenômeno comum a todos nós. Alguma vez já nos sentimos solitários em certos momentos da vida, isolados e perdidos. Pode ser um estado de sofrimento, imposto por vários fatores, sejam sociais ou psicológicos. Compreende um vazio em si mesmo e a falta de algo. Fazendo uma análise de conjuntura, valorizou-se o objeto em detrimento da humanidade. Parece ser tão sintomático, no tempo presente, muitos se encontram em estado de solidão, resultante de uma sociedade consumista.

Muitos se refugiam nos objetos ou na indústria midiática, merecendo dar destaque para as redes sociais, no intuito de compensar a lacuna interna. O regime industrial de produção produziu tantos bens de consumo, com o auxílio do avanço tecnológico e científico, entretanto, no decorrer desse curso acabou esquecendo da humanidade. Como consequência acabou gerando uma solidão coletiva, que de fato, produz danos, dando espaço à uma “pandemia da ansiedade” e uma “pandemia do consumo”. Existe uma incessante corrida para preencher um vazio.

Em contraposição, há a solitude, sendo diferente da explanada acima. Na solitude pressupõe a existência do livre-arbítrio de estar sozinho, como o caminho para conhecimento de si mesmo. A solitude pode dar-se através das seguintes práticas: meditação, leitura, uma simples caminhada, fazer um programa favorito sozinho. Momentos de solitude podem ser os mais diversos. O ato de contemplar a natureza, o bater de asas de uma borboleta, sentir o vento quente de verão, são momentos simples de solitude. Em nossa sociedade há uma excessiva valorização da coletividade, deixando de lado a individualidade. Que fique claro que isso não significa uma apologia ao “individualismo”.

A solidão é involuntária, podendo ser fruto de múltiplos fatores. A solitude é voluntária, visando sempre responder a uma necessidade própria, interior, do ser em busca do eu. A solidão, por vezes, é apenas um depósito de angústias que acabam apenas se acumulando, tornando-se uma grande amontoado de medos e incertezas.

No espectro autista é mais complexo delimitar solidão e solitude, pois ambos se entrelaçam. Ao mesmo tempo que estamos sozinhos, nos encontramos em estado próprio de autoconhecimento e descoberta. Poderia dizer que temos uma vocação para solitude. Na solitude exercemos a nossa fixação, nos entendemos melhor. Certamente em muitas situações nos sentimos solitários, como numa festa, em meio à uma multidão ou mesmo pelo fato de não termos amigos. Mesmo assim, a solidão faz parte do processo da vida, assim como também a solitude é importante, para nos isolarmos e repensar o nosso lugar no mundo.

Vitor Lucas



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