Um Espectro Na Universidade - Parte 2
Muitos
devem estar se perguntando porque escolhi Ciências Sociais? Tendo em mente um
dia tornar-me professor. Poderia alguém do espectro autista ser professor?
Saberia lidar com uma sala de aula cheia e barulhenta? Como enfrentar os
imprevistos e as dinâmicas do processo educativo? Antes de tudo, a escolha do
curso se deu em um momento relacionado aos acontecimentos contemporâneos na
política nacional. Ao contrário do que se pensa, toda escolha carrega fatores
externos, sociais e econômicos. Optar pela carreira docente é um enorme
desafio, já que é uma profissão muito desvalorizada pela sociedade.
Para uma pessoa que está dentro do espectro,
pode parecer algo inédito, pois envolve muita comunicação e sociabilidade, uma
parte que comumente somos inexperientes. Quem pode ser professor? Creio que
qualquer pessoa pode venerar nesse caminho, desde que o desejo pelo
conhecimento e a vontade de estudar sejam prementes. Há uma vantagem no caso do
espectro, pois quando possuímos uma fixação num assunto, sabemos bastante
sobre, o que para os alunos pode ser proveitoso e enriquecedor pedagogicamente.
A
carreira docente no Brasil é repleta de surpresas e batalhas diárias para a
sobrevivência de uma figura tão importante em sala de aula: precarização,
baixos salários, falta de acesso a aperfeiçoamento profissional e outros
inúmeros fatores. É importante destacar aqueles que exercem a função em escolas
públicas, na maioria das vezes, enfrentam uma realidade complexa.
Ciências
Sociais, foi uma janela aberta para um mundo desconhecido, cheio de dúvidas,
ideias e pensamentos. Um curso longe de benquisto, feito mais para aqueles que
possuem uma mentalidade rebelde e vontade de questionar o velho, o novo e o
futuro. Como qualquer outro curso, exige muita dedicação e, acima de tudo,
gosto pela leitura.
Com
certeza há muitos professores dentro do espectro autista, extremamente
dedicados no que fazem, sabem ensinar muito bem e sempre estão dispostos a
instigarem os alunos para aprenderem mais. Mas desconhecemos essas informações,
somos ocultos e nossas demandas imperceptíveis. Acredito que qualquer autista
seja capaz de ser professor e ensinar como tarefa de vida. Desde o estágio
docente – com alguns calafrios – percebi que teria muitos obstáculos para
superar: olhar para uma sala de quarenta alunos; explicar a matéria e
solucionar dúvidas. Mas e as variáveis, como esquecer o conteúdo de repente?
Isso a experiência dirá. O mais importante é deixar o medo de lado e aproveitar
essa jornada.
Vitor Lucas
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