Retratos da Infância

 

Quem não se lembra com prazer da infância? Muitas brincadeiras, surpresas, alegrias e risadas. A infância é o único período em que o mundo se colore eternamente. É uma fase do novo, para desbravar, explorar e realizar muitas descobertas. Para outros corações mais feridos é tempo que desmerece lembrança, devido a vários motivos econômicos, sociais e familiares. Apesar das adversidades, a inocência de ser criança nos permite voar e sentir livremente os sabores da vida. Parece inexistir limitações, regras e o “impossível” existe apenas como palavra. Mas sempre nossos pais se encontram presentes para disciplinar e impor as correções necessárias. Mesmo assim, há um ímpeto que nos leva a desobediência, ao correr e pular. O que importa de fato é poder sair e respirar o horizonte. Viver a infância é como caçar borboletas.

Particularmente a minha infância fora bem comum: bolinhas de gude, esconde-esconde, pega-pega e outras brincadeiras dessa época. Claro que as recordações são fragmentadas, esparsas. Mas o marcante se preserva, sempre voltando em nossa memória, mesmo que pelas metades. Lembro dos biscoitos que minha avó fazia, os bolos caseiros de cenoura com cobertura de chocolate e os filmes da Sessão da Tarde. Recordo-me também dos dias de festas, aniversários de primos e parentes próximos. Adorava comer dois, três e quatro pedaços de bolo, pois sabia bem que um como aquele, especial, não se tem todos os dias. Ainda hoje gosto de bolos festivos e “mágicos”. Remetem à alegria e paz. Quando se é criança tudo é fantástico. Outro ponto em relação a isso é que era quieto, introspectivo, reservado, no meu canto. Apenas socializava como “colega”. Anos atrás nem pensava em “espectro autista”. Porém, já sentia algo diferente.

Se pudesse ter a oportunidade de voltar no tempo, talvez sim, seria uma possibilidade. Mas essa é a graça, ficar lembrando e sentindo saudade. Muitos desejariam ser criança novamente, para viver as mesmas emoções que já tinham experimentado, reencontrar aquele tempo onde a única responsabilidade era brincar. Não havia trabalho, tabelas de horários para cumprir, as demandas do dia a dia esperando uma resposta. Tudo era mais simples, havia apenas uma obrigação: carpe diem! Aproveitar o dia e viver tudo aquilo que poderia ser oferecido.

Ter as portas-abertas para se ter uma infância saudável e com todas as suas necessidades atendidas, é uma maneira de garantir um bom depósito de lembranças que faram parte de toda a nossa vida. A infância, sabemos que ainda não é um direito garantido a todos, pois a grande parte têm de aprender ser adulto antes mesmo de nascer. Isso acaba criando a saudade de uma vida que não se teve e somente poderá ser vivida em sonho.

Vitor Lucas



Comentários

  1. Vivenciar as etapas das nossas vidas é fundamental para a constituição do psiquismo, cada passo, cada história escrita molda quem somos. Como bem disse, "A infância, sabemos que ainda não é um direito de garantido a todos...", infelizmente, é muito comum vermos adultos, no dia a dia, reproduzindo comportamentos que seriam adequados para uma criança, ou adolescente, presos em seu narcisismo, regredidos em um passado que por diversos fatores (socioeconômico, geográfico, cultural...) tiraram-lhes o brilho dos olhos... Seu texto me fez refletir a respeito da importância de olhar para o meu passado com alegria, para o presente com mais responsabilidade e para o futuro com esperança. Excelente texto

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