"HORA DE VOAR"
Quando
será a nossa hora de voar? Não falo especificamente de morte ou
espiritualidade. Aqui se trata de maturidade, autonomia e independência, tanto
no aspecto emocional e financeiro. Muitas vezes, permanecemos presos ao
passado, aos desejos que deixaram de se concretizar. Deixamos de dar
continuidade na vida, pois estamos presos dentro de nossos próprios medos.
Falta a coragem para percorrer novos caminhos, experimentar o que poderia ser
transformador e belo. Obviamente as memórias merecem ser preservadas e nossa história relembrada. Porém, somente quando isso nos beneficia e auxilia na
construção de um futuro mais promissor.
Tenho
como base o filme “Lady Bird: A Hora de Voar”, de 2017, dirigido por Greta
Gerwig. Claro que o filme trata da adolescência e o processo de transição para
a vida adulta da personagem principal. Mas o título evoca um debate
interessante, assim como comecei a redigir este texto. Nós autistas temos
muitas dificuldades para superar nossas barreiras, devemos adquirir os
mecanismos para desenvolver autonomia.
Ninguém
gosta de ser dependente. Pode até mesmo aceitar essa situação, devido ao receio
de enfrentar o novo e não querer sofrer as consequências. No início sempre é
difícil lidar com as mudanças, escolher outro estilo de vida, optar por uma
trajetória diferente. Porém, quando se começa visualizar os benefícios da
mudança, da experimentação, observa-se que nunca é demais limpar os olhos e
tentar ver melhor e de outra forma. Somos mutáveis, em formação, ao contrário
de monolíticos e estáticos.
Um
dos traços mais característicos do Transtorno do Espectro Autista é a estrutura
de rigidez, englobando também a rigidez psíquica. Dificultando qualquer
possibilidade de mudança e a resistência em lidar com os imprevistos do
cotidiano. Para nós é mais simples e menos desgastante permanecer onde estamos,
na rotina do dia a dia, pois já conhecemos, nesse universo privado, a forma de conviver e agir. Sair disso, seria demasiado incômodo e desconfortável.
Com as orientações e intervenções adequadas,
principalmente para aqueles que se encontram na parte mais leve do espectro,
conseguem ampliar repertório e conquistar qualidade de vida. Somos mais capazes
do que pensam, podemos superar expectativas, apenas precisamos de apoio,
suporte e incentivo. Dessa forma, será a nossa hora de voar.
Vitor Lucas
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