A PANDEMIA ATRAVÉS DO ESPECTRO
Vivemos
em tempos de incerteza e temerosidade. Tudo o que fora planejado, sonhado,
premeditado, foi colocado de lado ou até mesmo esquecido. Tivemos de aprender
repentinamente a conviver num mesmo lugar, durante dias, algo que em uma
sociedade do produtivismo exacerbado e da internet das coisas, foi uma
verdadeira experiência, já que estávamos tão distantes de nossa humanidade, da
alteridade. Éramos completamente estranhos entre nós. A pandemia do COVID-19, mudou a forma como
vemos a nossa realidade e o mundo, ao menos é o que se espera. Muitos já se
foram: familiares, amigos, conhecidos, crianças, jovens e velhos. Nada parece
ser resistente a esse vírus, tudo agora parece estar nas mãos de um
futuro inconcluso e ambíguo.
Essas
mudanças provocam inúmeras alterações em nossa rotina, principalmente sendo
parte do espectro autista, causando oscilações em nossos comportamentos. Sinto
que muitos foram impactados com essas mudanças radicais, inclusive as crianças
que vivenciam uma situação mais delicada. As famílias também são desafiadas,
pois tem de lidar com o isolamento social e as demandas dos filhos, que agora
se encontram longe da escola e tem de se adaptar à nova dinâmica forçadamente.
Acabam ficando mais fragilizadas e desoladas. Muito esforço terapêutico é
exigido, já que novos caminhos de intervenção terão de ser adotados.
Quanto
aos autistas, pertencentes ao espectro mais leve, há um pressuposto de que se
adaptam melhor. Mas como já ressaltamos em textos anteriores, lidar com
mudanças é muito complexo, exigindo muito esforço físico e emocional. Como está
ocorrendo, tudo foi alçado para o universo virtual: o ambiente de trabalho, o
universitário, a escola e outros. Os corpos presenciais, diante um do outro, já
não existem mais. Tudo está atrás de uma tela de celular, computador, transmitindo
a sua mensagem. Nós do espectro autista fomos obrigados a adaptação forçada, para se
adequar a esse novo cenário mundial de pandemia. Os resultados são que as
possibilidades de desenvolvimento ficam reduzidas. O ambiente doméstico se
torna um peso, porque a privacidade parece ser quase sempre violada e não há
“espaço” suficiente.
Logo
depois que essa tempestade passar, no Brasil e em outras Nações, haverá muitos
desafios a serem enfrentados. Um novo paradigma foi proposto aos métodos
terapêuticos: como utilizar os meios de comunicação virtual para realizar
intervenções terapêuticas em crianças, jovens e adultos autistas? As
circunstâncias exigem avanço para que futuramente possa haver mais preparo e
resiliência no enfrentamento dos problemas humanitários. No espectro autista, os
obstáculos são ainda maiores, pois situações extraordinárias como essa exigem
muito suporte e atenção.
Vitor Lucas
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