Um Espectro Na Universidade

 

Viver entre aquelas paredes cheias de pensadores, de várias áreas, filosofia, sociologia, história e pedagogia, foi ultrapassar as fronteiras do lugar onde vivo e nasci. Leitor, alguma vez teve a oportunidade de frequentar uma universidade? No país em que vivemos, esse privilégio é concedido à muito poucos. Para mim uma nova fase se iniciou na minha vida, porque conseguir ocupar aquele espaço, especialmente sendo um estudante oriundo de escola pública, em uma universidade particular e elitizada, foi algo muito novo. Antes foram muitas caminhadas, muitos ônibus e intensos estudos. Para um grupo restrito da sociedade, não há necessidade de muito empenho, a conquista de uma vaga no tão sonhado curso universitário é quase que natural.  Como parte do espectro autista, alcançar uma posição deste nível é uma exceção, pois outros não conseguem devido a limitações maiores dentro do espectro e condições familiares específicas.

Há que se enfrentar inúmeros desafios para permanecer estudando e lidando com as dificuldades e imprevistos que aquele lugar nos impõe. Apesar dos romantismos enunciados pelo meio midiático, a universidade é um ambiente guiado pela exclusão e competição. Nem todos conseguem se integrar naquele espaço, pois exige em demasia daqueles que não tiveram uma vida favorecida, com acesso à uma educação de alto nível e um núcleo familiar que permitisse o desenvolvimento intelectual e cultural. As muitas disciplinas, trabalhos e seminários, tomam conta do tempo, principalmente para aqueles que além de cumprir com essas obrigações têm de trabalhar. Outros, devido a várias circunstâncias, inclusive econômicas, acabam desistindo e deixando a universidade.

Pessoas no espectro autista que fazem parte desse ambiente, comumente se destacam, seja pela fixação e dedicação ao objeto de estudo e o campo científico no qual faz parte. O estabelecimento de relações sociais não é fácil, na grande parte das vezes renegamos isso para segundo plano, porque simplesmente é desinteressante ou, em outros momentos, existe uma barreira que nos impede de construir vínculos. Na área em que escolhi, Ciências Sociais, é incomum pensar que um autista todavia possa fazer parte devido aos vários estereótipos existentes: que nós somos gênios matemáticos natos.

Passar quatro anos em uma universidade não é tarefa fácil, porque existe muitos obstáculos, desânimos e indecisões. Em relação à escolha do curso, precisa-se pensar muito e refletir bastante. É uma decisão que merece ter o apoio de si mesmo e autoconfiança, para que possa seguir na caminhada com resiliência e perseverança.  Nesse momento os seus sonhos e objetivos ao longo da vida devem estar em primeiro lugar. Mesmo com os percalços, é uma experiência muito válida e que agregará muito conhecimento e aprendizado, além do acadêmico mas também para à vida, tendo ao final o que tanto se esperou: o diploma.

Vitor Lucas

 

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