"Não Chore Por Nós" por Jim Sinclair

 

É definitivamente um choque para as famílias quando descobrem que o neto, sobrinho ou filho é autista. O artigo “Não Chore Por Nós” de Jim Sinclair, publicado na revista Rede Internacional de Autismo (Autism Network International), em 1993, expõe exatamente esse dilema entre pais que esperavam e idealizavam um filho, tinham muitos planos, sonhos e expectativas. Mas no momento em que se deparam com algo totalmente diferente de seus horizontes, sofrem um processo de luto e frustração. “Autismo é um jeito de ser. Não é possível separar a pessoa do Autismo”.

Jim Sinclair diz, logo no início: “Os pais geralmente contam que reconhecer que seu filho é autista foi a coisa mais traumática que já lhes aconteceu”. O autismo é comumente visto como um acontecimento trágico, devastador e confuso, exigindo muita disposição e dedicação dos familiares para convivência e melhor entendimento. Essa dor que se cria se deve ao fato de que o relacionamento não será o mesmo como fosse entre uma criança neurotípica e seus pais. Como diz o próprio Sinclair, os pais e familiares assumem um sistema compartilhado de comunicação e relacionamento que para o autista é ininteligível.

O processo de luto é longo e impede que os pais trabalhem em prol do novo filho descoberto. Acabam esquecendo de dar atenção integral a criança, apenas relembrando aquele filho que nunca irá existir. Nos tornamos um alienígena para aqueles com os quais vivemos juntos, somos estranhos diante daquelas pessoas e na grande parte do tempo sofremos, por não saber comunicar e transmitir as nossas necessidades, sendo mal compreendidos. Mesmo que passemos por programas terapêuticos e de treinamento, assim como afirma Jim Sinclair, nunca conversaremos “como outras crianças conversam com seus pais”.

Na última parte “Autismo não é morte”, em linhas gerais, fala da importância de se dar autonomia, reconhecimento e, mais importante, deixar que os autistas falem por si mesmos. “Chore por seus próprios sonhos perdidos se você precisa. Mas não chore por nós. Estamos vivos. Somos reais. Estamos aqui esperando por você”. Ele instiga os pais a explorarem esse universo, deixando o temor de lado.  As verdadeiras tragédias em relação ao autismo são a exclusão, a discriminação e o abandono. Essa nova aventura que surge na vida dos pais é uma oportunidade para reaprender a viver e também o amadurecimento da maternidade e paternidade.

Viver o presente e deixar acontecer, como diz o próprio autor do artigo. Aproveitar esse novo mundo significa acessar novas possibilidades para enriquecer a experiência da vida. Não há mais motivos para lágrimas ou lutos de algo que nunca existiu ou existirá. Essa é uma chance de descobrir o outro lado do autismo. Sinclair diz: “O Autismo é um jeito de ser, é pervasivo, colore toda experiência, toda sensação, percepção, pensamento, emoção e encontro, todos os aspectos da existência”.

Vitor Lucas



 

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